sábado, 6 de outubro de 2012

Saiba tudo sobre a Democracia Corinthians que completou 30 anos.

“Ganhar ou perder, mas sempre com democracia”. 

Tal lema se destacou como um dos produtos do pensamento de uma geração das mais importantes do Timão. Trata-se do movimento construído no contexto da redemocratização brasileira, na primeira metade da década de 80. 

Sob a ótica da abertura política, descentralização do poder, modernização da administração e renovação do modelo de direção, o Presidente Waldemar Pires esteve à frente de todo o processo vivido no Parque São Jorge. Reviva a Democracia Corinthiana, em especial preparado em parceria com a Placar/ corinthians.com.br.

Com a eleição de Waldemar Pires à Presidência, o Corinthians viveria novos tempos. Somando-se os maus resultados da temporada de 1981, a saída do Presidente Vicente Matheus e o anseio pela liberdade no período da redemocratização da política brasileira, o cenário era mais do que favorável. Sob o slogan de Democracia Corinthiana, criado pelo publicitário Washington Olivetto, o Clube entrava de vez numa experiência revolucionária para o meio futebolístico.
Sócrates comemora um dos seus gols na decisão do Paulista de 1982 contra o São Paulo; 

Idealizada pelo sociólogo Adilson Monteiro Alves – chamado para integrar o novo Departamento de Futebol do Clube –, a proposta inédita reunia dirigentes, conselheiros, funcionários, técnico e jogadores sob o princípio da autogestão. 

Em outras palavras, todos teriam o direito a opinar nas decisões internas e o voto de cada um, independente do cargo, possuiria o mesmo valor. Além da contribuição positiva com uma ideologia de resistência ao regime militar, o grupo de atletas era reconhecidamente talentoso, contando com grandes ídolos como Doutor Sócrates, Casagrande, Zenon, Biro-Biro, Zé Maria e Wladimir.

Em plena Ditadura Militar, as mudanças sócio-políticas foram profundas dentro do Parque São Jorge. Desde a discussão acerca do autoritarismo nas relações sociais de trabalho até a necessidade real das conhecidas “concentrações” pré-jogo, que afastavam os jogadores da vida social. 

No que diz respeito às atitudes dos próprios atletas, o movimento provou a importância do engajamento de ídolos das grandes massas. Além de combater o conservadorismo que regia os clubes brasileiros, os líderes da Democracia se tornaram porta-vozes da liberdade de expressão no país, direito corrompido e buscado no momento efervescente da década de 80.
Adílson Monteiro Alves e Casagrande na comemoração do título Paulista de 1983; 
Recentemente, no dia 4 de dezembro de 2011, o Corinthians se sagrava Pentacampeão Brasileiro. Feliz pela conquista, a Fiel, por outro lado, sentia a perda da grande figura da Democracia, o eterno Doutor Sócrates. Fantástico com a bola nos pés, o inesquecível camisa 8 também exercia o papel de contestador. 
O ponto alto foi o envolvimento nos comícios e movimentos pelas Diretas Já. Ao lado do povo, ele, Wladimir, Casagrande e outros jogadores reforçaram o coro pela aprovação da emenda Dante de Oliveira, que previa a realização da eleição direta para a presidência. Mas os craques alvinegros não estavam sozinhos. Além deles, pessoas relevantes para a opinião pública, como Osmar Santos, Rita Lee e Juca Kfouri, legitimaram o movimento.
Dentro de campo, a equipe alvinegra também não decepcionou. Após um 1981 abaixo das expectativas os títulos reapareceriam. Nas finais contra o São Paulo, em 1982 e 1983, a Fiel pôde comemorar o bicampeonato estadual. A primeira conquista veio com as atuações brilhantes de três jogadores: Casagrande, Biro-Biro e Sócrates. 
Ainda no início da carreira, com apenas 19 anos, Casão, como também era chamado, já havia impressionado em sua estreia contra o Guará-DF, ao marcar quatro dos cinco gols da partida. No dia 1º de agosto, em clássico contra o Palmeiras, o centroavante caiu de vez nas graças da Fiel, com três gols. Biro-Biro e Sócrates fizeram os outros dois tentos e fecharam o inesquecível placar de 5 a 1. Já na fase final, o Timão enfrentou o São Paulo em três oportunidades, perdendo a primeira de 3 a 2 e vencendo as outras duas decisivas por 1 a 0 e 3 a 1.

O time bicampeão paulista de 1983. Em pé: Leão, Sócrates, Casagrande, Eduardo, Biro-Biro e Zenon. Agachados: Mauro, Alfinete, Paulinho, Juninho e Wladimir; 
No ano seguinte, o time do Parque São Jorge teve clássicos para decidir o seu bicampeonato. Na semifinal, o Palmeiras, e na final, o São Paulo, outra vez. Sócrates foi a grande estrela, marcando quatro gols, um em cada confronto. Contra a equipe alviverde, no primeiro jogo da semifinal, o Doutor sofreu com a marcação individual e apenas fez de pênalti no empate em 1 a 1. Já na segunda, bastou uma jogada para definir o 1 a 0 e a classificação. Após a vitória por 1 a 0 na primeira final, o Timão podia apenas empatar para ficar com o Bi. E foi o que aconteceu: 1 a 1. Corinthians 19 vezes campeão Paulista e a Democracia coroada.
Com a abertura política ainda que tardia, anos depois da emenda Dante de Oliveira, e a saída de Sócrates em 1984, o movimento foi aos poucos cumprindo seu papel e chegando ao seu final. Como legado ficou o bicampeonato paulista, uma galeria de ídolos e figuras representativas para a identidade corinthiana e o orgulho da Fiel em contar que viu o seu Clube escrever uma das mais belas histórias do futebol brasileiro e mundial.
Confira a entrevista concedida por um dos líderes da Democracia Corinthiana, o lateral esquerdo Wladimir:
Qual o legado que a Democracia Corinthiana deixou para o Brasil e o Mundo?
Foi um momento histórico em que pudemos honrar nossa condição de cidadãos brasileiros. Creio que os atletas não podem se sentir a margem do processo político brasileiro em nenhuma época. Não somos alienígenas. A Democracia trouxe uma nova consciência de que mesmo que sejamos jogadores e figuras conhecidas das massas, devemos nos portar de maneira a combater o autoritarismo nas relações de trabalho e políticas.

Como é para você ter participado do movimento de maior importância sócio-política da história do Corinthians?
Na verdade, eu sempre estive envolvido em questões políticas. Costumava frequentar e apoiar o Sindicato dos Atletas. Os jogadores também têm direitos e deveres naturais que naquela época não estavam sendo respeitados, assim como todos os cidadãos. Diria que o movimento foi a consagração da grande ansiedade que tínhamos em poder ajudar na redemocratização brasileira. Foi um momento oportuno.

Sócrates, Casagrande e Wladimir comemoram o gol do Corinthians na final do Paulistão de 1982, contra o São Paulo, no Morumbi; 
E qual era a sensação em subir no palanque dos comícios pelas Diretas Já?
Era incrível olhar de cima mais de um milhão de pessoas unidas pela mesma causa. Senti que estava tendo um papel nobre e uma postura de cidadão mesmo. 
É difícil não se lembrar do Sócrates e da máxima que ele deu naquele comício. Para ele, caso a emenda Dante de Oliveira fosse aprovada ele não abandonaria o país.
Qual a emoção de ver toda a revolução feita por vocês coroada pelo bicampeonato paulista?
Tudo começou com a escolha do treinador feita por nós mesmos. Resolvemos dar uma chance ao Zé Maria, mas não era a dele. Após definir o Mario Travaglini no cargo, decidimos a melhor forma de jogar, assumindo a responsabilidade e uma possível culpa caso algo não desse certo. 
Naquelas finais contra o São Paulo não tinha como dar errado, a gente sempre prevalecia nos momentos decisivos. Para jogar futebol é necessário o estado de espírito feliz para criar e vencer, e isso nós tínhamos.
Mande um recado à República Popular do Corinthians que buscará o Bi Mundial no final do ano.
Eu diria que o espírito daquele grupo da Democracia Corinthiana era da mais nobre representatividade e nível de consciência política. É claro que os tempos mudaram, o futebol mudou. 
Mas acredito plenamente que os jogadores atuais cumprirão a sua missão assim como nós, conquistando o Bi Mundial e a consagração desse projeto. Vai, Corinthians!

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