sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Edu Gaspar tem histórias de sobra para contar daqueles tempos em que que atuou no futebol europeu por Arsenal e Valencia

O ex-volante Edu Gaspar tem histórias de sobra para contar daqueles tempos: a parceria com Viera, Henry e Bergkamp, o 'chocolate' sofrido do Barcelona e a discussão com Xavi. Edu também explicou o entrevero com Mano Menezes na segunda passagem pelo Corinthians.

Lucas Borges: Como era jogar com Henry, Bergkamp?

Puta merda...É espetacular. Dava gosto de ver. Os caras no treino, eu falava, 'olha o que os caras fazem, o que eu estou fazendo aqui?' Era excepcional! O Kanu! O Kanu era o maior barato. Vi ele jogando, treinando, as jogadas que o Henry fazia no treino, que o Bergkamp fazia. Era outro patamar mesmo. Baita prazer.

E você enfrentou o Barcelona do Messi...

Só pelo Valencia, aí já sofri. O primeiro ano contra o Barcelona, joguei fora, empatamos por 1 a 1, mas deixamos de ganhar. Jogamos pra caramba. Esse jogo eu estava muito bem, fiz uma baita partida. Aí em casa perdemos, e teve um jogo que perdemos de 5 a 0. 

Meu irmão...Esse foi duro. Com 15 minutos de jogo, 2 a 0 para os caras, 20 minutos, 3 a 0. Eu falei: 'ferrou, vai ser a maior sacolada da história'. À tarde, um campo que você não vê final, e os caras só toque, toque, toque e gol. 'Aonde vai parar esse jogo?' Aí tem até uma brincadeira que eu falo. 

Falo, não, aconteceu mesmo. Com 90 minutos de jogo, 5 a 0 para os caras e eu cheguei no juiz e falei, 'árbitro, minuto 90, acaba esse jogo, não vai me dar dois, três minutos que vai sair mais gol aqui'. E o Xavi escutou e falou: 'não, não, não, árbitro. Tem que deixar'. Mandei ele se danar, já estava 5, eu todo suado, vermelho, morto e os caras assim que nem vocês, batendo papo. [risos] 

E não tem nada igual a esse Barcelona que você tenha visto em campo?

Não, que eu tenha visto, não. Esse Barcelona não vi nada igual. Não sei das épocas de seleção brasileira, de 1980, a Laranja Mecânica, que também não tive oportunidade de ver. Mas igual a esse Barcelona eu nunca vi.

Sobre sua trajetória, Edu. Copa São Paulo, Mundial, Arsenal, Valencia, foi uma coisa meteórica, uma carreira de muito sucesso. Por que faz muito tempo que não tem um garoto do Corinthians repetindo essa sua trajetória?

Boa pergunta. É um dos desafios meus aqui. Gostaria, e o Andrés também...

O Andrés falou que a base foi uma das falhas da gestão dele.

É, o presidente Mário Gobbi sempre deixa muito claro para mim que tem intenção de deixar a base mais sólida, melhor, e é um objetivo. A gente preparar bem os atletas para que cheguem aqui e joguem bem também, para depois ir embora e fazer a vida. É difícil, mas também foram poucos que tiveram o que aconteceu comigo. É um desafio.

Você também tem ideias para a base, tem um projeto que quer implementar?

Tenho, tenho... Já conversei com o pessoal e tem um projeto que está em cima da minha mesa importante para o clube. Agora entrou o Marcelo Rospide, que é o novo diretor técnico. Vou sentar com ele, passar as ideias, vamos conversar um pouquinho. 

Porque antes o Corinthians era, quando cheguei, dois departamentos distintos, departamento profissional e departamento de base. E não é, o futebol é um departamento só. Um é cadeia do outro. Ninguém sabia muito o que acontecia na base, contratava meio sem saber. 

Tem que integrar total os caras. O Marcelinho Paulista na época vinha sempre falar comigo para isso. Eu subi sete atletas do ano passado para cá. O Giovanni, o Marquinhos já foi vendido, o Antônio Carlos está indo para a seleção brasileira.

E os Centros de Treinamento da base e profissional integrados...Qual é o prazo para entrega?

Não sei, falam em dois anos para ficar pronto. Vamos ver. É um passo muito importante. É muito importante ter um lugar parecido com esse para os atletas da base. Não precisa ser nesse nível que temos hoje, porém, um lugar bacana. Tudo isso daqui é vendável, serve muito para os atletas e para mim também. E isso vai servir para eles.

Paulo Silva Jr.: Você acha que ficou mais difícil para um jogador da base seguir essa trajetória que você seguiu? Ganha a Copa São Paulo num ano, no outro está batendo pênalti na final de Mundial?

Se está mais difícil...Não adianta falar em termos de qualidade porque naquela época, 1998-99, era brincadeira, né? Para mim o melhor meio-campo que nós tivemos aí, se não foi um dos melhores da história do Corinthians. 

Era essa época: Marcelinho, Ricardinho, Rincón e Vampeta no auge dos quatro. Era um timaço. 

Mas é safra também. Tem de respeitar a safra, às vezes chega atleta com características boas, outros não, tem de preparar bem os atletas, querer que eles estejam com a gente, estejam bem. 

A gente se preocupa bastante quando eles vêm para cá. 

O Fábio Carrile [auxiliar técnico] que fica em cima deles para corrigir. É um sistema que a gente quer implantar para que eles possam vir bem também, mas acho que fui um cara de sorte, porque você não vê muitos que tiveram essa sorte assim. 

De jogar Taça São Paulo, jogar no Corinthians, ser vendido logo na sequência, vir seleção brasileira. Aconteceu tudo muito rápido.

Tem acompanhado a Copa do Brasil sub-20? O que tem achado do nível?

Tenho, estou gostando. Foi nossa primeira, né? Antigamente tinha aquela lacuna entre sub-18, sub-19 e sub-20, porque eles estavam jogando a Copa São Paulo com o time sub-17 e não tinha nenhum campeonato importante, então é bacana isso. A categoria mais importante para mim é a mais próxima do profissional, sub-18, sub-19 e sub-20. 

E agora tem essa competição, a Copa São Paulo voltou para a idade normal, da antiga, e estamos acompanhando. Tem um menino, o Igor, que está treinando com a gente, é lateral esquerdo, bom menino. Tem o Paulinho também, um menino que tem uma característica interessante. Tem uma turma boa.

Agora o Corinthians pega o Vasco que é exatamente o time em que você fez aquele golaço na final da Copinha. Quem pode ser o novo Edu?

Não sei. Vamos torcer para que não seja um, podem ser uns quatro, cinco, para trazer tudo para cá porque isso é bom para o clube. Aí valoriza todo um trabalho da categoria de base, profissional. Isso para todo mundo é legal.

Ainda falando da base, antigamente tinha a coisa dos 'meninos do terrão' e hoje a gente já fala de CT integrado. Me parece que agora o garoto de 14, 15 anos já está com uma realidade muito próxima do profissional. Como fazer para não perder essa magia do menino lutar para chegar no profissional e não ser uma coisa tão normal, simplesmente mudar de categoria?

Aí vai da vontade do atleta querer. Muita gente me pergunta: 'Edu, tem de voltar o terrão?'. Mas não tem nada a ver, o tempo passou, evoluímos, os atletas têm de ter boas condições mesmo de treinar, de ter algo próximo do profissional, para quando chegar aqui ele estar pronto. Não que o terrão não deixaria, mas passou, agora é hora de evoluir em todos os sentidos. 

Agora, para o atleta ter esse choque, ele tem de entrar aqui, em um CT como este, estar do lado de um Sheik, de um Paulinho, de um Chicão...Ou quer ficar aqui ou quer jogar em outros lugares, times de menor expressão? Jogar em um Pacaembu lotado, um Brasileiro pelo Corinthians, chegar à seleção brasileira, os sonhos de qualquer atleta, e o Corinthians proporciona isso. 

Mas sua pergunta foi excelente, é isso, muitas vezes a gente se pega e o cara treina normal. Meu irmão, você está chegando aqui para treinar e às vezes nem precisa estar bem tecnicamente, mas tem de mostrar para o Tite, para ele ver e falar: 'Pô, esse moleque quer ficar aqui, olha o jeito que ele treina'. Você olhar para o olho do moleque e ele está, sabe, mostrando isso. Mas muitas vezes a gente têm de apertar, falar.

Já tem mais empresário, assessor de imprensa, está mais moldado para ser profissional que antes.

Isso sim, sem dúvida. Eu fui ter empresário sabe quando? Quando fiz o gol da Copa São Paulo. Eu estava com 19 anos. Assessor de imprensa eu fui ter quando fui para o Arsenal e também fiquei um ano só e pensei: 'não precisa também.' 

E como faz para moldar jogador com essa cabeça? É importante ter um acompanhamento desde os 13, 14 anos?

Eu acho que sim, é importante desde o comecinho da carreira do atleta mostrar para ele a importância de se jogar em um Corinthians. Jogar no Corinthians é ser sempre cobrado. Tem de estar disputando títulos, jogando bem. Por isso a gente fala em excelência. 

Tem de ganhar, eles têm de vivenciar na pele o que é Corinthians. E aproveitar o que tiver. E quando chega aqui, eu faço questão de conversar com os atletas. Mostrar para eles a importância de que hoje está chegando aqui, amanhã vai depender dele. Olha a oportunidade, olha a estrutura que estamos dando, agora é com você. 

Então, treina bem, mostra um bom comportamento, mostra para o Tite o que você quer. Acaba o treino, não vai embora, vai treinar alguma coisa que você tem deficiência e vai evoluindo. Para você ficar aqui, e o Tite ver que 'pô, esses moleques merecem ficar aqui'. E ir criando esses objetivos para os atletas.

Você acha que hoje ou em um médio prazo o Corinthians é o maior clube do Brasil neste sentido? O moleque de 8, 9 anos se puder escolher um lugar para jogar, escolhe o Corinthians?

Isso pelo número de corintianos que nós temos também [risos]. Eu acho que vamos se tornar isso, o maior, o dia que a gente tiver um centro de treinamento. 

Porque muitas vezes acontece que o Corinthians é legal, vivendo um baita momento, mas o Santos tem um lugar legal para meu filho, meu jogador, o São Paulo tem um lugar melhor para ele, ele vai ser tratado com melhores instalações. O que atrai mesmo é o escudo, o poder que o Corinthians tem do cara imaginar jogar no Corinthians. 

Isso que acho que atrai. Imagina em um momento bem organizado, com estrutura e a marca Corinthians bem vinculada, tudo funcionando bem, as pessoas vendo que está funcionando, os jogadores sendo vendidos como foi o Marquinhos, o cara vai pensar o quê? Vou colocar no Corinthians. Dá de tudo, baita clube, baita camisa, trabalham bem, vou para cá.

Mas aí como funciona, Edu, você bate na porta do presidente e fala 'temos de andar com essas obras do CT...

Não, eu não chego a esse ponto. Hoje a gente se dá tão bem internamente, o presidente, o Roberto, o Duílio, que eles abrem assunto para tudo. Ninguém impõe nada. Mas existe um bate-papo do que é bom para o clube. 

E quando eles dão essa liberdade para mim, a gente conversa, a gente fala todas as coisas, existe uma conversa normal entre nós. E todos sabem da importância disso. É um grande desejo do presidente, ele está firme com isso.

A gente ouve você falando sobre as contratações pontuais, sobre a análise bem feita, a molecada da base subindo. Mas ainda tem espaço para uma contratação do porte de um Ronaldo? Uma contratação bombástica como foi com Tevez?

Olha, sempre falei que o que me preocupa é o seguinte: se o atleta vende muito como o Ronaldo, é perfeito. Mas falando pelo Edu, pelo Tite, em teoria a gente não se preocupa tanto, nossa preocupação é lá dentro. 

A parte técnica, a característica do atleta. Se a gente consegue juntar, imagina que a gente pega um cara que estamos precisando tecnicamente, um cara que tem a característica que o Tite precisa e será taticamente importante, e ele vende para caramba. Aí é o melhor dos mundos. É óbvio que isso é extremamente difícil de encontrar, mas é o objetivo. 

Tentar equilibrar isso. Não um cara que vende muito e proporciona pouco. Agora, um cara que joga muito e vende pouco é em teoria para o futebol diário vantagem. O importante é o cara estar jogando bem, jogando bem ele se vende. Agora tem de tentar esse equilíbrio. Mas tem, lógico, espaço para um Ronaldo sempre tem, para um Tevez, um Seedorf. Esses caras são jogadores que tem lugar em qualquer lugar.

E na sua listinha que você discute com o Tite, com o Mauro [Van Basten, observador técnico], tem algum nome desse para o ano que vem?

Não, sinceramente não. Nós estamos em um período muito legal. Tem o período dos times de futebol que é a reestruturação, que é o tempo mais difícil, você tem de contratar três, quatro, cinco, seis caras e montar o seu time. 

E dando certo você entra em um patamar de contratações pontuais. Hoje estamos em um momento que os contratos estão tudo direitinho, ninguém para renovar, o Danilo já renovou, todo mundo bem, o time jogando bem, o grupo montado. Agora são peças pontuais, sem precisar de um astro. É lógico que se vier um astro é bom também.

E o que o Corinthians precisa?

Eu não posso falar, até gostaria. Mas tem algumas coisas...

Como a lateral esquerda que não tem um substituto à altura...

É engraçado falar isso porque a gente fala muito isso, mas é característica. Precisamos de algumas características dentro do elenco, algumas posições que a gente não tem e estamos indo atrás. Vamos ver se dá certo. Mas estamos indo bem.

Está difícil tirar jogador do Corinthians também?

Esse é meu objetivo.

O Ramirez, por exemplo... Estão procurando muito os jogadores do Corinthians e aí eles que não querem sair ou a diretoria que não quer liberar?

Assim, são situações diferentes para cada um. Às vezes tem atleta que quer sair, como foi o Castán. 'Olha, Edu, eu quero, não me faça outra proposta porque eu prefiro ir. Por mais que vocês possam economicamente chegar no patamar, eu quero sair'. Então, pô, vai ser feliz, vai embora. 

Mas o meu objetivo é esse mesmo, que os caras entrem aqui e pensem 'pô, vou sair daqui, com essa estrutura, com esse time brigando por título?' Quero que o cara tenha essa dificuldade, que balance. Porque aí o atleta vai querer jogar mais, treinar melhor, jogar melhor, para ficar aqui. O objetivo é segurar. Mas a gente tem uma dificuldade hoje, saudável, boa, porque é um bom sinal. Se o cara não quer ir, arrepia que pode ficar. 

Sinceramente, dá para segurar o Paulinho para o ano que vem por tudo o que está fazendo por Corinthians e seleção?

Olha, é igual o Leandro Castán. A gente respeita muito o que quer o atleta. Se o cara está feliz aqui, jogando bem, seleção, destaque, o Corinthians pagando bom salário, a família feliz, vive bem, tem tudo para ficar, né? Mas se ele vir falar que já conquistou o que queria conquistar com o Corinthians e prefere ir para outro clube, tem de respeitar. 

O Paulinho vai entrar mais ou menos em uma dinâmica parecida do Castán. Mas estou animado, porque ele é inteligente, sabe da importância de estar jogando, de estar no Corinthians. Às vezes você vai para um clube na Europa e não se adapta tão bem como esperava.

PSJ: E essa coisa de às vezes o jogador ir para fora e ficar no banco, você usa da sua experiência? Porque você teve um começo difícil no Arsenal também.
EDU: Bastante difícil. 

O Marquinhos, por exemplo, está na Roma e podia ser titular do Corinthians no ano que vem. E a gente nunca vai saber se ele seria titular do Corinthians ou não, porque ele acabou interrompendo o ciclo ali. Como você trata isso?

Eu coloco isso, sim. Eu tive duas experiências, uma positiva e uma negativa. No Arsenal foi muito difícil meus primeiros seis meses, e no Valencia, nossa, foi lindo. Mas eu passo isso para eles. Em um papo eu falo para eles o que aconteceu comigo, para pensar bem. Ver como o time está lá, se está reestruturando, se o time está montado. Vê os caras que estão jogando na mesma posição.

E eles têm essa percepção? Ou às vezes o cara vai para a Roma achando que vai disputar o título italiano e não, não vai brigar pelo título.

Eu acho que hoje em dia eles têm consciência. Mas a questão nem é muito disputar título, tem de ver como está o elenco. Posso dar exemplos de clubes que estão se reestruturando. Será que é legal chegar em uma época dessas? Saindo todo mundo e você chegando?

Caso da Inter de Milão.

Não queria falar, mas você falou, é um caso. Claro, Inter de Milão é Inter de Milão se você está reestruturando ou não, tem de respeitar a grandeza do clube. Mas se tratando de Corinthians, vale a pena se pensar. Não está em um time mais ou menos aqui no Brasil.

E a conjuntura econômica, de fato, está dando para igualar?

Igualar, igualar não dá porque a moeda é diferente, mas os salários que se pagam no Brasil até os caras lá fora ficam surpreendidos. O cara vive tranquilamente e bem para o resto da vida aqui.

Falando de dificuldade na carreira, você teve muita dificuldade com lesões também. Você às vezes pensa que podia ter disputado uma Copa do Mundo em 2006, podia ter sido campeão do mundo?

Eu perdi. Fiquei fora da Copa de 2006 pela lesão no meu joelho. Eu fiz a Copa América, a Copa das Confederações e três meses, quatro meses antes do Mundial eu me machuquei. E o Parreira já tinha falado que o grupo das Confederações era o da Copa praticamente. 

Já tinha anunciado que eu seria o suplente do Zé Roberto, acabei perdendo. Passei um momento muito bom, mas muito bom no Valencia. Como atleta, estava naquele momento em que se sente confiante, fazendo tudo bem feito. E me machuquei. Mas faz parte do futebol. E as duas lesões minhas foram graves. As duas não, as porradas, né [risos]? Mas essa foi fogo, logo quando você tem 26, 27 anos, está no auge da forma e contunde. 

Aí voltei bem de novo, fiz 12 jogos seguidos pelo Valencia depois da minha lesão no ligamento cruzado do joelho esquerdo e foi o melhor começo da história do Valencia, o time voando, jogando muito. Aí eu vou contra o Sevilla e caio, machuco de novo. Foram momentos que eu estava bem.

Nesta volta ao Corinthians, você achou que podia ter o protagonismo da primeira passagem?

Sim, eu vim pensando sim, eu inclusive antecipei minha volta para fazer uma readaptação para a Libertadores. Mas aí eu me equivoquei. Porque não sei se eles entenderam que eu precisava de readaptação. 

Então eu lembro que treinei apenas 10 dias, o Brasileiro naquela fase do time do Mano jogando bem, jogando mal, ele veio falar comigo. Eu treinei só 10 dias, não estava bem fisicamente, fiz só um coletivo com o time júnior e por azar ou sorte eu treinei bem para caramba. O Mano falou que eu estava bem, e no terceiro jogo eu me machuquei. 

Aí recuperei e machuquei de novo o adutor. E aí eu comecei para a Libertadores muito bem, mas esse início me prejudicou. Se eu chegasse direto em 2010, pode ser que eu seria protagonista. Porém, esse início que eu imaginei que ia dar para me readaptar, acabou me fazendo pagar depois.

Com a cabeça de hoje você faria aquelas críticas públicas contra o Mano [Edu reclamou das poucas oportunidades no time no meio de 2010]?

Sem dúvida nenhuma. Demorei muito ainda para fazer. Muito, muito, muito, muito. Só cheguei a fazer porque achei que naquele momento não fui respeitado como pessoa.

Pelo Mano.

Pelo Mano. Como pessoa. Eu pedi para fazer uma reunião com ele, ele não me recebeu nem em um dia, nem no outro, nem no outro. Aí eu já fiquei chateado. Mas eu fiquei com o Mano no banco todo o período, e não teve uma vez que vocês viram eu falando que queria jogar. 

Eu poderia usar vocês perfeitamente. Dizendo que queria jogar, que não sei o quê, eu podia cobrar. Mas aí pensei que cobrando eu estaria prejudicando o grupo e o jogador da minha posição. Podia prejudicar o Mano, porque o pessoal ia ficar em cima dele perguntando. Só que teve esse problema, não sei se foi de informação e tal. Fiquei chateado e acabei fazendo essa declaração pública.

Pelo que a gente ouve no Corinthians é o tipo de coisa que não acontece com o Tite. Ele é uma pessoa bem mais aberta para o diálogo?

Eu não sei, com o Mano também não. Acho que foi uma coisa pontual, minha, fiquei chateado. Foi apenas isso. Hoje eu vejo o Mano normalmente. Antes da temporada sentamos, demos um abraço, assumimos que nos equivocamos, um pediu desculpa para o outro. 

Tive o prazer de encontrá-lo aqui e batemos o maior papo, na festa da seleção eu fiquei com ele. E passou. Foi pontual, nada que ele faz normalmente.

E você é bem resolvido com o fim de sua carreira como jogador ou isso de certa forma o fez pensar que poderia ter jogado mais? Seu último ano acabou tendo poucos jogos.

100%. Eu lembro comunicando meu pai e minha mãe, e eles 'não, não faz isso', imagina, o filho jogador...

E você ainda jovem.

Jovem, com 32 anos. Eu falei 'olha, mãe, recebi um convite de um time da Inglaterra. Se der certo a negociação, eu continuo'. Era o West Ham, time londrino também, eu tenho apartamento em Londres, pô, fico em casa. 'Se não der, já saiba que estou voltando para encerrar a carreira'. E ela: 'Não faz isso'. Eu não conseguia me ver jogando no Rio de Janeiro, no Sul, sem brincadeira, eu não me via jogando um Brasileiro contra o Corinthians. 

E também não queria tirar minha família para fazer contrato de um ano e jogar nesses lugares. Cheguei lá, não deu certo, voltei muito tranquilo. Eu atingi meus objetivos, me realizei como jogador, cheguei à seleção brasileira, cheguei a times grandes na Europa, financeiramente me deu um respaldo bom, e então decidi encerrar. Virei a página, hoje nem bola eu jogo mais.

Nem uma peladinha?

Nada. Fazem aí e não tenho vontade.

Não faz falta?

Não faz falta. Virei a página mesmo. Uma que não dá muito tempo, outra que não sinto saudades. Olho lá os caras batendo bola...Mas não me motiva, jogar peladinha, essas coisas.

E na Europa talvez você tivesse jogando, a pressão em um time médio da Inglaterra é menor?

É, aí estica, faz contrato de dois anos, joga, faz mais um aninho em outro lugar, volta. Mas o homem lá de cima é fogo, sabe o que faz. Podia não estar aqui hoje.

E qual o tamanho da sua carreira como jogador de futebol, Edu? Quando o pessoal te vê, qual o tamanho do Edu para a história do Corinthians, você acha que é um jogador lembrado mais pelo Corinthians, pela seleção, por ter ficado muito tempo lá fora, pelo quê?

Não sei. Eu, aqui dentro, antes de assumir o cargo, sabia que não era nenhum ídolo do Corinthians. Mas sabia que era muito respeitado e querido. Pelos torcedores eu não sou um Neto, um Marcelinho Carioca, um Rincón, mas sou um cara querido. Isso não tenho dúvida, como me respeitam, me tratam. Sempre com carinho. 

A época do Arsenal foi muito marcante. Sou o primeiro brasileiro da história do futebol inglês a ganhar um título, então até hoje o pessoal lembra muito, mas não consigo mensurar. A seleção foi uma passagem rápida, joguei a Copa América, as eliminatórias, a Confederações e perdi o Mundial. Às vezes o pessoal não lembra, acho que fiz 18, 20 jogos pela seleção, então não foi uma passagem muito significativa. 

O Arsenal foi bem marcante, no Valencia eu deixei uma baita impressão. O pessoal fala que era para eu ser o número um do Valencia, mas pelas lesões... Eu deixei um legado legal, pelo comportamento também, mas vocês podem falar melhor.

E o Corinthians de 99-2000 aguentava aquele Arsenal?

Olha, dava jogo bom, hein? O time do Corinthians 98-99-2000 era muito bom, muito forte. O ataque com Luizão, Edílson espetacular, o meio-campo com Vampeta jogando um absurdo.

Dá para comparar um Vieira com um Rincón, um Pires com um Ricardinho...

Ia ser bonito.

Quem é o cara com quem você jogou junto e fala 'esse cara...'?

Patrick Vieira. Porque era da minha posição. Um do lado do outro e eu pensava 'pelo amor de Deus', o que eu estou fazendo aqui. Às vezes ele jogava sozinho. 

Ele fazia tudo, era muito completo, era alto como eu e tinha força, técnica, fazia gol, dava porrada quando tinha de dar. Baita pessoa, sou amigo dele até hoje. Esse cara pela posição. Mas fenômeno mesmo é Bergkamp, que foi demais, Henry, pelo que fez naquele Arsenal, e o Ronaldo. Esse daí eu joguei na seleção com ele. Não sei se vocês lembram no Brasil e Argentina que foi 3 a 0 no Mineirão...

Os três gols de pênalti...

É, e não foram só os gols, o que ele fez naquele jogo. Nossa, eu ficava só olhando. Isso é fora do comum. Tem o patamar dos bons jogadores, dos excepcionais e ele estava um pouco acima dos excepcionais ainda. 

E como dirigente, onde você se imagina? Um Leonardo, dirigente de um clube internacional como um Arsenal, um Valencia? Ou presidente do Corinthians?

Ou então o Patrick Vieira te arruma alguma coisinha no Manchester City...

Estamos em contato [risos]. Eu vivo intensamente isso aqui. Sou muito crítico comigo, quero que as coisas saiam bem, não quero que as pessoas falem mal do Corinthians. E não sei o que vai acontecer mais para frente. Mas gosto de independente do atleta, do gerente, deixar um legado bacana. 

Ouvir que pelo menos o cara era educado, gente boa, se entregou. Como atleta foi legal, todo mundo fala até hoje que a passagem foi legal. Vou nos clubes e as portas estão muito abertas. Meu objetivo é esse. Deixar uma boa imagem para o futebol.




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