sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Edu Gaspar admite, que Chelsea quer ganhar para alcançar o Manchester United.

Neste segundo trecho da entrevista com Edu Gaspar a ESPN Brasil, o gerente de futebol corintiano compara o time brasileiro com os rivais da Europa e crava: é possível vencer o Chelsea, em dezembro, no Mundial do Japão. Mas Tite e seus comandados não terão moleza, diz o cartola. "O Chelsea quer vencer o Corinthians para começar a se aproximar do Manchester United."

Lucas Borges: Você passou pelo Arsenal, da Inglaterra, e agora o Chelsea aparece como um possível adversário. Dá para falar que fora de campo o Corinthians já está no nível desses dois times?

Fora de campo?

É, em termo de estrutura, toda essa organização.

Olha, eu conheço muito bem o Arsenal. Até esse sistema, essas ideias que eu trouxe, contratação, 'scout', essas coisas, muito veio da Inglaterra. Eles têm uma disponibilidade de recursos muito grande para investir nesse setor, coisas que nós estamos ainda chegando lá. 

Minha intenção um dia é estar ali perto. Mas em termos de estrutura, de clube, de organização, não vejo muita distância assim não, sinceramente. Lógico que a capacidade financeira deles é maior que a nossa, mas estamos caminhando para chegar. 

A ideia é chegar a ser um clube 'top' em todos os sentidos. Quando eu fui contratado, fiz a pergunta: qual a intenção do clube? Quer ser um clube de excelência em todos os setores, bons fisioterapeutas, bom preparador físico, bom treinador, bom gerente, bons jogadores, ou vocês querem ser um clube 'ah, vamos ver o que dá, se a gente ganha um Campeonato Brasileiro, se não ganhar tudo bem?' Ou um clube de investimento, que vocês sabem muito bem que tem, de comprar jogador barato para vender?. E a resposta foi, 'não, queremos ser excelência no futebol mesmo'. E aí todo mundo sabendo dessa notícia pensou 'vamos tentar chegar lá'. Mas acho que leva seu tempo. Leva seu tempo.

Paulo Silva Jr.: E você acha que o pessoal lá tem essa noção? Como você imagina que o Chelsea encara o Corinthians em termos de estrutura? Eles têm aquela visão do futebol brasileiro ser um pouco mais bagunçado, às vezes até amador, ou você acha que o Corinthians não está passando essa imagem para eles?

Na oportunidade que eu estive em Zurique agora, conversei com eles para explicar tudo que estava sendo feito aqui. Eles ficaram até contentes, 'pô, bacana vocês passarem essa imagem'. 

Eles têm uma certa ideia do que é o futebol brasileiro, mas não acompanham de perto, até porque a evolução está sendo de quatro, cinco anos para cá. Eles estão acompanhando também e têm bastante informação nossa lá, isso posso te garantir.

Fora de campo a coisa está ficando emparelhada. E dentro de campo?

É... Imagine assim: o Arsenal tem CEO, que é aquele cara que responde pelo, treinador Arséne Wenger. A estrutura deles é um pouco diferente da nossa. Mas a maneira como estamos conduzindo está bacana. Agora, dentro de campo eu confio muito no nosso elenco, sinceramente. 

Me animo muito quando falo do nosso elenco. Você vê que não é um elenco que você olha e fala 'o elenco está bem hoje'. Não, é um elenco que está vindo muito bem faz um tempo. Foi vice-campeão paulista, campeão brasileiro, campeão da Libertadores, hoje vamos jogar o Mundial, então isso que dá confiança. 

Porque às vezes fico incomodado de, pô, 'pegamos três, quatro, cinco contratações, agora o time ficou bom pra caramba'. Mas não é isso. O time fica bom quando está junto há mais tempo, trabalha há bastante tempo junto.

Você é desses que acha que há uma disparidade muito grande entre futebol europeu e brasileiro ou acredita que os grandes times brasileiros, Fluminense, Atlético-MG, Corinthians, jogam de igual para igual com esses times da Europa?

Ah, quando se fala de futebol brasileiro eu respeito muito. Tão aí grandes exemplos, o time do Internacional que foi pegar aquele baita time do Barcelona e ganhou. A capacidade que os atletas brasileiros têm de improvisação dentro do jogo acho que os europeus não têm. 

O Tite conseguiu fazer uma coisa também muito difícil no futebol brasileiro atual. Você vê que a organização tática do Tite hoje é excepcional. São coisas que você não via muito no futebol brasileiro. 

Hoje qualquer pessoa vê o time do Corinthians jogando e fala 'tem umas linhas bem feitas, todo mundo defende'. O Tite tem méritos nisso. Dá confiança e também causa respeito. Nós vamos jogar de igual para igual, não tenha dúvida nenhuma.

Taticamente como você imagina esse jogo, o que é esse igual para igual para você? Você acha que o Corinthians naturalmente começa mais vendo o que o Chelsea vai fazer, ou tem condições...

Precisa ver se nós vamos chegar no Chelsea...[risos]

Imaginando esse jogo...

O jogo mais difícil para a gente é a semifinal. Daí a final...

Mas vocês já estão de olho no Chelsea, já assistem aos jogos...

Sem dúvida nenhuma, esses relatórios já recebo do Chelsea também. De como estão jogando. Não só do Chelsea, mas de todos.

Já imagina o Ralf marcando o Oscar, o Chicão e o Paulo André com o Fernando Torres?

Dá para imaginar, dá para imaginar tudo. E eu confio muito. Estou confiante realmente que vamos fazer uma grande competição. Estamos vindo bem. 

Você vê as partidas que estamos fazendo no Brasileiro ainda com o time que agora vai começar esses últimos seis jogos a formar o contexto mesmo que o Tite quer, mas está vindo jogando bem. Isso que me anima. Vamos ver como vai ser com os caras.

Edu, como é para um cara que em 2000 bateu um pênalti em final de Mundial, aquele Maracanã lotado, cheio de corintianos, 12 anos depois ser o cara que está organizando tudo nos bastidores? Como é isso para você? Quando que você pisou no Japão o você pensou?

Para mim o maior impacto, eu falo e até me arrepio hoje, não foi nem o Japão, foi Zurique. O dia que eu pisei na Fifa, entrei dentro da Fifa representando o Corinthians e vi os presidentes dos clubes, aí deu uma caidinha de ficha.

Falei, 'caramba, aonde que eu vim parar, xará?' Estava em campo havia pouco tempo atrás e hoje tenho a possibilidade de estar representando o clube aonde nasci, conquistei coisas importantes e agora estou à frente. 

Daí cheguei lá, liguei para o presidente Mário Gobbi, liguei para o Roberto e para o Duílio agradecendo, porque me senti envaidecido, sabe? Cheguei para o Seu Mário, e falei 'obrigado pela confiança, primeiro, porque sou o nome do clube aqui. Por estar representando o Corinthians em um momento tão especial, vocês me darem essa confiança'. 

Ali foi especial, foi bem legal. E estou vivendo muito isso. Só vou ter realmente uma dimensão mais para frente, quando ficar mais velho. Agora estou tão bitolado. Nem quis fazer a entrevista na minha sala porque se vocês vissem a minha sala como está, a quantidade de papel de Fifa, vocês ia dar risada. 

Qual a diferença desse Mundial para aquele de 2000?

Ah, Japão, né? Tem todo um charme você fazer esse Mundial fora. 

As provocações dos rivais...

É, hoje estamos indo para o Japão mesmo, como todo mundo sempre gostaria que fosse. Embora aqui tenha sido um Mundial forte, com um montão de equipe de primeiríssima linha. É todo esse charme, estamos viajando agora, estamos indo para o Japão disputar um Mundial. É bacana.

Você acha que a repercussão está bem maior? Aquele Corinthians x Real Madrid, por exemplo, dá para comparar com o que falam de Chelsea? Porque hoje em dia o pessoal para para ver jogo do Chelsea lembrando que é o time que vai pegar o Corinthians. Não tinha essa coisa na época, ou você acha que tinha?

Eu lembro que foi correria também isso daqui. Foi uma loucura. Lembro que tinha muita gente procurando a gente para entrevista, muita TV de fora vindo ver os treinos, os campos nossos lotados de gente. 

Eu não tinha a repercussão que estou tendo hoje porque não estava no cargo. Mas foi bastante corrida também aquela época, saiu bastante coisa na Europa, tinham informações de gente que estava morando fora. 

Mas esse daqui está especial, hein? Falei com o pessoal da assessoria esses dias: 'como nós vamos fazer?' Porque a procura está uma loucura. Em todos os sentidos. Você sai na rua, vai em um bar, e é Mundial. Vai jantar, é Mundial. É geral. Agora comparar eu não sei. Mas que está grande a coisa, está.

E essa historia de que os times europeus não ligam muito, que foram para o Rio de Janeiro passear? Como você lidou com essa situação?

Naquela época nem me preocupava com isso, porque a partir do momento que ganhamos, veio para passear, não veio para passear, não importa, o título está lá, a Fifa reconhece. A medalha está lá na minha sala, a faixa está aí. Mas lá em Zurique conversei com o Chelsea: 'e aí, como vocês encaram uma competição como essa?' 

Eles falaram: 'Edu, nós queremos bater o mesmo número de Mundiais do Manchester United [venceu em 1999 e 2008]. Esse é o nosso primeiro grande objetivo e não queremos deixar passar'. Eu disse, 'obrigado pelo recado, vai ser passado'. Então eles não estão indo para brincar, não. Estão indo para querer ganhar o Mundial.

E eles chegam no meio da temporada, né? Chegam com o time embalando agora.

Eles chegam em um momento bom, muito bom para eles. Embora a gente também chegue num momento bem legal. Não é um momento ruim. Até pela preparação que fizemos de treinamento. Descanso para um, para outro, para engatilhar uns dois meses de treinamento e jogos fortes. 

Vamos chegar em um momento bom. Mas eles chegam em um momento legal, meio de temporada, o time já jogou quase 30 jogos com o mesmo grupo.

O pessoal do Chelsea lembra bem de você?

Pô, na reunião, tinha uma mesa em forma de 'u'. Um telão aqui atrás, na frente todos os representantes da Fifa, o Chelsea de um lado e o Corinthians do outro. Era bem formal, o cara que está falando vai lá, aperta o botão, tradução simultânea. 

Antes de começar a reunião, o cara do Chelsea falou: 'queria falar que tenho um grande adversário aqui, que já ganhou do Chelsea algumas vezes, espero que não ganhe'. Ele me citou na reunião, o pessoal bateu palma. Eu falei 'obrigado'.

Você fez gol no Chelsea já.

Fiz dois gols no Chelsea. Um de falta, outro de escanteio. Um em casa e um fora. Ganhei bastante do Chelsea, viu! Apesar de que o nosso time naquela época era brincadeira. Nosso time naquela época não perdia. 

Ganhamos a Liga sem perder um jogo. Saímos perdendo o jogo que fiz gol em casa. No minuto dois, três, Patrick Vieira fez um gol e eu fiz outro. O cara bateu escanteio, bate-rebate e eu fiz o gol. 
Fonte:




Entrevista com Edu Gaspar:

Primeira Parte:
O diretor Edu Gaspar importa ideias da Inglaterra e revoluciona futebol do Corinthians

Segunda Parte:
Edu Gaspar admite, que Chelsea quer ganhar para alcançar o Manchester United.

Terceira Parte:
Edu Gaspar tem histórias de sobra para contar daqueles tempos em que que atuou no futebol europeu por Arsenal e Valencia

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