Paulo André é titular do Corinthians, foi campeão e eleito um dos melhores zagueiros do Brasileiro de 2011, mas não são raras as vezes em que é reconhecido pela desenvoltura que demonstra fora de campo. Se fora de campo a fama de intelectual é motivo de orgulho, dentro das concentrações ele é obrigado a aturar as provocações dos colegas, encaradas com bom humor.
“Sacaneiam muito, muito. O Fabio Santos é quem mais fala. O Julio Cesar, também, quando eu chego ali ele começa [imita em tom de apresentador]: ‘Paulo André. Pintor, escritor, modelo, não sei o que lá e depois, jogador’. É uma brincadeira saudável. Acho divertido. Não tem distanciamento para com eles. É muito próximo. Estão me sacaneando, mas também pedindo conselhos”, disse Paulo André.
A fama de “pensador” se justifica. Aos 29 anos, Paulo André goza de boa fama com colegas de profissão e ex-jogadores. Era amigo de Sócrates, um dos ícones entre os “rebeldes do futebol”, morto no dia do título brasileiro do Corinthians em 2011. Em entrevista ao portal uol, também no ano passado, ele foi o primeiro, e até agora o único, jogador em atividade a criticar a gestão de Ricardo Teixeira. Já campeão brasileiro, lançou um livro de memórias (O Jogo da Minha Vida, Editora Leya), em que conta as dificuldades que viveu na carreira.
“Eu falo o que eu acredito e acho que é uma mensagem legal para muita gente. Minha luta interna é mudar a imagem do atleta do futebol. Quero que ele seja visto de forma diferente. E para isso eu preciso falar, mostrar alguma coisa legal, sair da caixinha”, diz o zagueiro, que não se incomoda com a recepção das pessoas.
“Eu acho legal a fama de intelectual. Nunca fiz para aparecer, Pelo contrário, teve dia que eu estava lá na capa há quatro dias, estava louco para sair e ninguém me tirava”, conta o zagueiro, aos risos, para em seguida falar da recepção dos corintianos.
“O pessoal tem orgulho, fala ‘que bom que você joga no Corinthians’. Lógico que tem gente que gosta, gente que não gosta, mas a maioria vê com bons olhos, tirando os meio xiitas que acham que você não pode escrever, ou pintar, ou tomar uma cerveja e jogar futebol”, avalia o zagueiro.
Por tudo isso, ele segue com a língua afiada. Desde que posicionou-se sobre Ricardo Teixeira, o então presidente da CBF caiu e algumas coisas mudaram no futebol brasileiro. Paulo André vê uma evolução, mas acha que o caminho ainda é longo.
“Está melhor do que estava, sem dúvida nenhuma. Hoje há um certo diálogo, uma tentativa de melhoria, mesmo que pontual. A máquina voltou a se movimentar. Mas se você me perguntar se é insuficiente, acho que sim. Teria de ter mudanças radicais e elas vão acabar surgindo pela necessidade, seja de calendário, data-Fifa, gramados, estádios com problemas...”, resume Paulo André, listando alguns dos problemas do esporte no país.
Até dezembro, no entanto, as principais preocupações de Paulo André devem ser relacionadas ao que acontece nos campos. Titular de Tite, o zagueiro tenta não pensar muito no assunto, mas diz que antes de dormir sempre pensa nele mesmo fazendo um gol no Mundial de Clubes, possivelmente o torneio mais importante da história do clube que ele defende.
Nada que tire o seu sono. Preocupação mesmo só com o pai, que deve estar na arquibancada e é torcedor fanático do time alvinegro. “Meu pai tinha desistido e agora falou que quer ir. Se ele não morrer nessa aí, não morre nunca mais”, brinca Paulo André, que jura não ter pretensões de assumir a função de capitão do time, apesar da liderança natural que exerce entre os companheiros.
“Pra mim é indiferente. Não fui capitão e pude influenciar e ajudar em muita coisa. A cara do grupo hoje tem tantas lideranças, tanta coisa legal que não dá pra direcionar para uma pessoa só. O Tite tem sido muito feliz nisso”, avalia Paulo André.
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