Corinthianismo, raça, dedicação, vitórias e títulos. Palavras que fazem um breve resumo da carreira daquele que não foi apenas mais um ídolo da Fiel, mas sim do atleta que é a cara da torcida e o recordista de jogos com a camisa do Timão. Há exatamente 40 anos, o jogador que mais vezes entrou em campo pelo Corinthians fazia a sua estreia. Em parceria com a Placar, o Timão preparou um especial sobre o craque Wladimir.
Revelado pelas categorias de base do Clube, Wladimir Rodrigues dos Santos teve a oportunidade de integrar a equipe principal em uma excursão pela Europa durante a temporada de 1972. O garoto, de apenas 17 anos, estreou em um amistoso contra o Besiktas, da Turquia. Na vitória do Corinthians por 3 a 0 sobre o adversário, no dia 01 de junho de 1972, em Ancara, Wladimir foi considerado o melhor jogador da partida. Na temporada seguinte, firmou-se como lateral-esquerdo titular e dono absoluto da camisa quatro, que foi sua até 1985. Nesse período em que permaneceu no Timão, Wladimir conquistou os Paulistas de 1977, 79, 82 e 83.
© Ronaldo Kotscho/Placar (Reprodução Proibida)
Juninho, Wladimir, Sócrates e Ataliba conquistaram juntos o Paulistão de 1983; Clique na imagem e veja mais fotos da história de Waldimir no Corinthians
Sua passagem pelo Corinthians foi marcada pelos números extraordinários que atingiu. Com 803 jogos, além de ter sido o corinthiano que mais vezes atuou vestindo o manto sagrado, foi também o que mais disputou partidas do Campeonato Brasileiro, totalizando 267.
Ainda que sentindo lesões e aconselhado por médicos para não jogar, Wladimir não cogitava a ideia de deixar a equipe titular. Aprendeu a suportar a dor para poder entrar em campo. Chegou a ficar 161 partidas sem uma única ausência. Exemplar na defesa, Wladimir recebeu apenas quatro cartões vermelhos em sua carreira, mesmo sendo conhecido e eternizado pela Fiel pelos famosos – e precisos – carrinhos. Tais feitos resultaram em seu consequente ingresso à lista de eternos ídolos do Timão.
© José Pinto/Placar (Reprodução Proibida)
Equipe alvinegra do ano de 1978: em pé, Jairo, Zé Maria, Taborda, Amaral, Zé Eduardo e Romeu; agachados, Vaguinho, Palhinha, Sócrates, Biro-Biro e Wladimir; Clique na imagem e veja mais fotos
O lateral vivenciou alguns dos mais importantes eventos da história alvinegra, como a Invasão Corinthiana no Rio de Janeiro, em 1976. No Paulista do ano seguinte, foi ele quem recebeu o cruzamento de Zé Maria e cabeceou para o gol. Oscar, zagueiro da Ponte Preta, tirou em cima da linha, mas a bola sobrou para o Basílio balançar as redes e dar fim ao jejum de 23 anos sem títulos. Ao lado de Sócrates e Casagrande, foi responsável pela ocasião que considera ter sido o ápice de sua carreira, a Democracia Corinthiana. O movimento permitia a participação de todo o elenco em decisões técnicas do Clube.
Aposentado no futebol, Wladimir exerce hoje o cargo de Secretário de Esportes na Prefeitura de São Sebastião, litoral norte de São Paulo. Confira o bate-papo com o craque:
Qual é a sua lembrança da estreia pelo Corinthians?
Eu estava envolvido por muita ansiedade, muita preocupação. Eu tinha consciência da responsabilidade que é representar o Corinthians, representar a República. Sabia que minha estreia era decisiva para o resto da minha carreira e consegui ter um bom desempenho. Fui considerado o melhor jogador em campo naquela partida e fui muito bem nos dois jogos seguintes. A ansiedade é muito grande porque a estreia é o primeiro passo pro resto da carreira.
Como foi estrear na Turquia?
Foi ótimo, também! Embora a gente soubesse da responsabilidade, por estarmos num país diferente, a pressão seria outra, mas a nossa cobrança e a do treinador era a mesma. O que importava ali, independentemente do adversário, era representar o Sport Club Corinthians Paulista.
Quando você estreou, imaginava que fosse se tornar o atleta com mais jogos na história do Corinthians?
Naquele momento você só pensa em se tornar titular. Quando você é amador, você só pensa em ter uma oportunidade na equipe de cima, contribuir para que o time tenha um resultado favorável. Era uma oportunidade de eu dar longevidade pra minha carreira. Desde o início eu detestava ficar fora, por isso me machuquei muito pouco e quando me machucava, eu contrariava a palavra do médico e fazia de tudo para poder entrar em campo.
Na sua trajetória de mais de 800 jogos, qual foi o grande momento com a camisa alvinegra?
Cada jogo, independente do adversário, é um momento único na carreira da gente. Não dá pra distinguir. Tem aquele período que tudo o que você quer é ser o titular, depois quer ser o atleta reconhecido, o ídolo do Corinthians. São momentos diferentes e são importantes da mesma forma.
© José Pinto/Placar (Reprodução Proibida)
Wladimir estreou com a camisa do Corinthians no dia 1º de junho de 1972; Clique na imagem e veja mais fotos da história de Waldimir no Corinthians
Você viveu momentos marcantes na história do Clube, como a Invasão, o Fim do Jejum e a Democracia. Como foi isso?
Isso faz parte do currículo de poucas equipes do mundo. Um clube como o Corinthians ficar 23 anos sem ganhar títulos é um absurdo, é inacreditável e felizmente estive no jogo que colocou fim ao jejum. O ápice da minha vivência foi a Democracia. Um grupo de jogadores se expôs para contribuir com a redemocratização do país, tomávamos decisões que influenciassem no rumo do país, queríamos mudar a visão das pessoas, mudar a vida de milhões de brasileiros. Temos consciência de que contribuímos para o momento democrático que o Brasil vive hoje.
E o seu gol mais bonito com a camisa do Corinthians, qual foi? E o mais importante?
Meu gol de bicicleta na goleada por 10 a 1 contra o Tiradentes, em 1983. Pela dificuldade. Você tem que ter a antevisão, a perspectiva de que você vai marcar o gol. Quando o Paulo Egídio se posicionou, eu já preparei meu corpo pedindo mentalmente pra bola chegar a mim, e finalizei de bicicleta. Talvez não tenha sido pela importância da partida, mas pela dificuldade daquele gol.
Você acredita que alguém pode bater o seu número de jogos pelo Clube?
Quase impossível! Pode acontecer, mas é difícil. Hoje o futebol é muito veloz, muito dinâmico. Os atletas querem ganhar dinheiro, muito mais do que ganhávamos naquela época. Lógico que não é impossível, mas não acho provável.
Você também jogou a primeira Libertadores em que o Corinthians esteve envolvido. Como foi a experiência? A prioridade era mesmo o Campeonato Paulista?
Foi um torneio internacional comum. Hoje é prioridade, mas naquela época, o Presidente não se importava com a Libertadores. Vicente Matheus, que é a pessoa mais corinthiana que eu já conheci em toda minha vida, não queria saber de Libertadores, nem de Campeonato Brasileiro. Ele queria mesmo era ganhar o Paulista porque era lá em que estavam nossos maiores rivais. Pra nós, a prioridade não era o campeonato em si, mas os títulos mais valiosos eram os vencidos contra os rivais de São Paulo.
O que acha dos atletas da lateral-esquerda da equipe atual, Fabio Santos e Ramon? Se tivesse que dar uma dica a ambos, qual seria?
São dois bons laterais. O Fábio Santos eu conheço desde o começo da carreira, ele jogou com o meu filho. Sei que, além de ter potencial, ele já entendeu a grandeza e a importância de jogar no Corinthians. O que eu falaria para o Ramon é isso. A primeira coisa que um atleta precisa, é entender a grandeza de jogar por esse Clube, entender que cada jogo é uma guerra, é uma final.
Mande uma mensagem à República Popular do Corinthians 40 anos após a sua estreia.
Eu diria para a República que um dos maiores orgulhos da minha vida foi ter vestido essa camisa. Ter contribuído para a história do Sport Club Corinthians Paulista. Apesar de ter jogado no Clube, sei exatamente o que cada Corinthiano sente, aprendi a ser um maloqueiro sofredor.
Clique aqui e acesse a galeria completa no site da Placar.
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