A história da superação do Corinthians já é conhecida: queda para a Série B do Campeonato Brasileiro, sangue novo em campo e na diretoria, modernização da estrutura e do marketing do clube e como resultado, títulos. Daqui em diante, o time mais valioso do país - marca avaliada em R$ 1 bilhão, segundo estudo da revista ‘Forbes’ -, espera contar uma parte ainda mais interessante da história. Um trecho sem precedentes no decorrer de mais de cem anos desde 1° setembro de 1910, data de sua fundação.
Se engana quem pensa que a conquista inédita da Libertadores é o ápice para aqueles que ditam os rumos do clube. As pretensões são ainda maiores.
“O Andrés - Sanchez, ex-presidente corintiano - fez uma grande parte e nós sabíamos que eu tinha que dar o outro salto. É isso que estamos fazendo. Entendo que se o Corinthians seguir nessa linha, obtendo êxitos, ele caminha a passos largos para uma evolução que jamais teve”, contou o sucessor de Andrés, Mario Gobbi, em entrevista à Rádio Estadão.
A “linha” citada pelo dirigente tem tons azul e grená. Enquanto o mundo tenta copiar o estilo usado pelo Barcelona dentro de campo, o Corinthians foi buscar inspiração no que os espanhóis fizeram nos escritórios.
“Já faz algum tempo, desde dezembro de 2007, adotamos mais ou menos a regra do Barcelona. Você vai periodicamente depurando e aumentando o grau de qualidade e você não pode tirar mais de um jogador por setor a cada temporada. Ai você vai mantendo uma base, uma estrutura, um time com padrão de jogo."
Gobbi, por exemplo, chegou no clube em 2007, como diretor de futebol e no início de 2012, tornou-se presidente. Alguns jogadores titulares estão no Corinthians a tanto tempo quanto o cartola, casos do lateral direito Alessandro e do zagueiro Chicão. Do time campeão da Libertadores, apenas um atleta, o goleiro Cássio, não havia conquistado o Campeonato Brasileiro, no ano anterior.
O primeiro técnico da nova gestão corintiana, Mano Menezes, só saiu do cargo por forças maiores, em 2010, para assumir a seleção brasileira. Adilson Bastista não teve muito tempo para mostrar trabalho, é verdade - ficou apenas cinco jogos no comando -, mas a filosofia foi retomada com Tite, que resistiu até à eliminação na Pré-Libertadores, em 2011.
"Você mantém a comissão técnica e foi o que fizemos no Corinthians nos últimos quatro anos. Neste ano, saiu apenas um no setor defensivo, o Castán e o Alex talvez saia no meio campo. E nada mais”, conta Gobbi, que tem na mesa de cabeceira o livro ‘A bola não entra por acaso’, de Ferran Soriano, vice-presidente do Barcelona entre 2003 e 2008.
Com Soriano, o Corinthians também aprendeu que é preciso descentralizar o poder e que as vozes dissonantes são uma força positiva. “É preciso ter o sim e o não, o ponto e o contraponto”, diz Gobbi. Conceito que soaria como loucura até dezembro de 2007, quando Alberto Dualib deixou o comando do clube depois de 14 anos no trono. Foi preciso um desastre, mas a lição foi ensinada.
“Como o clube tinha sido rebaixado, todo mundo pedia mudanças e todo mundo aceitou, porque no fundo todos deram as mãos para voltar à Série A. O Corinthians foi rebaixado dia 3 de dezembro e no dia 4, entrou diretoria de futebol e comissão técnica nova."
"Todo departamento de futebol foi reconstruído e reformado. Sem dúvida nenhuma o que nos pautou foi uma mudança de mentalidade, de comportamento”, conta o dirigente, que participou da construção do moderno Centro de Treinamento corintiano. O próximo passo é a realização do sonho do estádio próprio, em evolução, em Itaquera.
“O Corinthians virou um clube democrático, eleições diretas, proibição de reeleição, um estatuto moderno, que é copiado por todos hoje. Outros clubes veem até aqui pegar cópias. E uma campanha de marketing violenta. A marca Corinthians era fortíssima e hoje é muito mais forte. Dai vieram as receitas, e com as receitas você forma um time ainda mais consistente. De 2008 para cá, o Corinthians sempre brigou por títulos ou foi campeão.”
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